O selo Escrituras publica no Brasil Expírito - multiversos, trabalho do poeta, editor e tradutor mexicano Rúben Mejía, que traz carta-prólogo de Jorge Aguilar Mora e posfácio de Reyna Armendáriz González.Expírito representa a morte vital; o exercício sublime e iniludível de expirar em consciência da morte, da leveza humana, exercício que paradoxalmente dá asas e força à existência. Este é, a rigor, o sopro de vida que normalmente chamaríamos de “espírito”, e que Mejía permuta por um ex latino que de imediato nos coloca “fora de”.Expírito sempre morre e, no entanto, vai modelando uma medula inesgotável na vida. O fundo encaixa-se à forma e deixa-nos profundos e gelados. Cruzamos a desolação sagrada da existência, a impossível fronteira do instante, o instante infinito da morte... Religiosamente vivendo. O autor viaja no seu estado existencial, nas curvas mais ocultas das palavras que, por vezes, abruptamente cerceadas, brilham, se tocam, punçam melhor. Uma linguagem esculpida com profundidade oferece-nos harmonia e determinação, e, sobretudo, uma voz que está em condições de interatuar com a fagulha racional da alma.Mejía escreve a inteligência, o amor pela idéia e pelas verdades contidas no mundo ideal. Sua pluma corre em linhas de ferro tão fugazes como agudas; e nesta longa translação efêmera tudo se nos quebra e crucifica tudo nos fala-fala-fala desaprumando-se irremediavelmente no humano, nos reflexos inescapáveis do mundo.Expírito - multiversos é uma summa do conhecimento, uma cosmogonia em metamorfose incessante que aspira à conjunção e conjugação do tempo humano, isto é, entregar uma visão plena e aberta das histórias todas do homem como um homem só, e integrar numa expressão, ou nos silêncios de uma letra, ao Nada e ao Absoluto, mediante o giro ¾ o riço ¾ para outra linguagem, nesse jogo estético e logotético ¾ segundo o termo cunhado por Roland Barthes ¾ que recria e altera a essência de toda língua: a poesia, síntese da luz que nos imanta, insemina e incendeia no reino real do poesible.“Lendo e relendo esta obra, muito aplaudi em silêncio a sua corajosa e ambiciosa aventura estética a uma transgressão marcada pela busca espacial e captação de uma realidade situada além da estreita realidade cotidiana. Sua experimentação sintática, seus cortes, seus relâmpagos e seu modo de criação poética – a especialidade, a imagética insólita, as desarticulações do verbo – é a meu ver fundamental.”
Lêdo Ivo, membro da Academia Brasileira de Letras